O grande número de ex-prefeitos que se candidataram este ano para voltar ao cargo é um fato que divide opiniões no meio acadêmico. Pesquisa feita pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostra que mais de 3 mil candidatos a prefeito nas eleições de outubro já ocuparam o cargo. Eles foram eleitos nos pleitos de 1996, 2000 e 2004.
Para alguns cientistas políticos, a busca permanente pelo poder municipal é reflexo de uma democracia incipiente, que possibilita ao candidato estabelecer feudos políticos. Outros, no entanto, consideram a prerrogativa de disputar um cargo que já foi exercido nada além do exercício pleno da democracia, que transfere ao povo o poder de colocar quem quiser no cargo.
Para o cientista político José Luciano Dias, é normal um político buscar exercer novamente um cargo como o de prefeito. Dias não faz críticas ao que chama de “pensamento de classe média”. Segundo ele, o problema é que “pensadores” dessa classe social, que representa 7% dos brasileiros, “acha que pode impor aos mais pobres em quem deve votar”.
Luciano Dias qualifica de “bobagem” essa postura e lembra que, na hora em que digita na urna eletrônica o número de seu candidato, a população mais pobre exerce o direito de escolher aquele que prefere ver no cargo.
Também cientista político da UnB, João Paulo Peixoto faz uma avaliação diferente da de Luciano Dias. Candidaturas recorrentes ao mesmo cargo não passam de um método criado pelos políticos para estabelecer “feudos”, nos quais eles dominam o eleitorado, ressalta Peixoto.
Para ele, não há leis capazes de modificar tal realidade. Trata-se de um problema cultural da sociedade brasileira, que convive com um capitalismo incipiente, que se reflete na política, fazendo com que haja pouca renovação dos quadros existentes, explica.
O cruzamento de dados feito pela Confederação Nacional dos Municípios demonstra, por exemplo, que 1.075 políticos que foram prefeitos entre 2005 e 2008 querem retornar ao cargo e vão disputar as eleições deste ano. Com 207 ex-prefeitos na disputa.
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