Óvulos criados em laboratório geram discussão ética sobre reprodução


As células-tronco romperam o que talvez fosse a sua última grande fronteira: o desenvolvimento de óvulos férteis a partir das formas mais “básicas” delas.
Por enquanto, o feito se restringe a camundongos, mas cientistas afirmam que ele pode representar um importante passo no tratamento da infertilidade feminina e reprodução humana (entenda melhor no subtítulo Humanos).
Em tese, há dois tipos de células-tronco que poderiam dar origem a qualquer tecido: as embrionárias e as iPS, que são células adultas “convencidas” por técnicas de laboratório a voltar a um estágio semelhante ao embrionário.
Na prática, porém, nenhum cientista tinha conseguido dar origem a óvulos férteis a partir desses dois modelos “básicos”. Japoneses, liderados por Mitinori Saitou, da Universidade de Kyoto, deram um jeito nesse problema.
O processo de formação dos óvulos começa com as chamadas células germinativas primordiais, que possuem uma “personalidade” celular ainda muito básica.
Alterando alguns genes, os japoneses apostavam que seria possível induzir as células-tronco a se transformarem em células similares às germinativas primordiais.
Ao usar camundongos transgênicos, eles finalmente conseguiram dar origem a essas células, usando tanto as células-tronco embrionárias quanto as iPS.
Em laboratório, os cientistas usaram esses óvulos em inseminações artificiais, que deram origem a filhotes férteis e saudáveis. A taxa de nascimento, porém, foi inferior à de filhotes oriundos de óvulos “tradicionais”.
Humanos
Se a técnica realmente puder ser aplicada em ser humanos o que ainda deve demorar, as implicações serão grandes. Surgiria a possibilidade de criar óvulos de mulheres de qualquer idade, mesmo após a menopausa. Quem retirou os ovários devido a um câncer também se beneficiaria.
“Eles conseguiram um feito incrível, mas o trabalho não explica como algumas etapas foram feitas. O próprio grupo ainda precisa desvendar como alguns dos mecanismos funcionam”, diz Patrícia Beltrão Braga, pesquisadora de células-tronco iPS da USP. “Eles ainda não conseguiram fazer todo o processo in vitro”, lembra ela.
A técnica, porém, já ligou um sinal amarelo devido a um dilema ético. Em tese, pela regressão a um estágio tão primordial de desenvolvimento, seria possível manipular as células para dar origem a espermatozoides.
Ou seja: casais do mesmo sexo poderiam ter um filho biológico, carregando 50% dos genes de cada genitor.
O grupo de Mitinori Saitou foi também o responsável por criar em laboratório os primeiros espermatozoides férteis com células-tronco.

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