Este ano, candidatos já gastaram R$ 1 bilhão em campanhas

Com apenas dois meses de campanha nas ruas, os candidatos a prefeito e a vereador pelo país gastaram R$ 975 milhões para conquistar votos do eleitorado, o equivalente ao orçamento aprovado pela Câmara para o Plano Brasil Sem Miséria para este ano. O valor se refere à segunda parcial das contas dos candidatos divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que vai de 6 de julho a 6 de setembro.

Segundo o cientista político Vitor Peixoto, doutor em financiamento público de campanha, essas despesas devem chegar a cerca de R$ 3 bilhões ao fim do segundo turno, em 28 de outubro. Essa previsão representa um aumento de 33% nos gastos da campanhas em relação às eleições municipais de 2008 (R$ 2,2 bilhões). Nesses dois meses, foram desembolsados, por exemplo, R$ 22,3 milhões na produção de jingles e vinhetas; R$ 45 milhões para contratar carros de som; R$ 3,7 milhões em fogos de artifício e rojões; e R$ 2,2 milhões para contato de telemarketing.

Num país que padece de Educação, Saúde e Saneamento, com 16,2 milhões de miseráveis (8% da população vive na pobreza extrema, com renda per capita de R$ 70 por mês), especialistas perguntam se os gastos são compatíveis com a realidade brasileira. Os candidatos gastaram R$ 15,5 milhões por dia, em média, desde o início das campanhas.

Gasto diário por eleitor é de R$ 6,93

Da fortuna gasta até aqui, R$ 551 milhões foram para despesas das campanhas dos candidatos a prefeito, incluindo comitê financeiro dos partidos. Outros R$ 404 milhões foram gastos pelas campanhas de vereadores e seus respectivos comitês. Mais R$ 20 milhões foram desembolsados pelos partidos, que não especificam nas contas ao TSE para qual dos dois pleitos a verba foi usada. Os valores desconsideram doações entre comitês, partidos e candidatos.

Com base no tamanho do eleitorado, esses gastos já equivalem a R$ 6,93 por eleitor. São 140,6 milhões de pessoas que vão às urnas este ano, segundo o TSE. O número é próximo ao da proposta que tem ganhado mais apoio no Congresso para o financiamento exclusivamente público de campanha, de R$ 7 por eleitor. Ou seja, faltando um mês e meio para o fim do segundo turno, os candidatos já estariam, na média, sem recursos para continuar a divulgar sua propostas para o mandato e angariar mais votos.

Esse valor varia muito de candidato para candidato, é claro. Em 2008, houve candidatos em São Paulo com despesa de mais de R$ 50 por eleitor. Mas também houve candidato com menos de R$ 1 por eleitor. Não sei dizer se é muito, mas se você pensar no que precisamos e o que de fato um vereador produz, por exemplo, é um custo benefício amplamente desfavorável — afirmou Claudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil. — O dinheiro gasto não vem dos cofres públicos, mas sai da economia do país. Sai de empresas, está no que consumimos. Não é um dinheiro aplicado de forma eficiente para o desenvolvimento.

Segundo especialistas, esses gastos tendem a se acelerar em setembro. O cientista político Vitor Peixoto explica que os gastos dos candidatos a prefeito e vereador tendem a ser concentrados nos últimos 15 dias de campanha.

Isso é para aplacar o voto dos eleitores indecisos, sobretudo em caso de candidatos a vereador, já que normalmente metade do eleitorado não sabe em qual candidato votar — afirmou Peixoto, que é professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). — Esse montante é maior não apenas por causa da inflação, mas também porque as empresas estão temerosas e cada vez declarando mais as doações. O risco de ser pego no caixa 2 é grande, ainda mais agora após o caso do mensalão.

Na média, o gasto por candidato foi de R$ 2.165, considerando os 450.271 que estão aptos para a corrida eleitoral. Mas as campanhas, claro, têm grandes desigualdades de recursos. Peixoto é contra o financiamento público de campanha, mas critica a desigualdade de arrecadação e gasto na corrida eleitoral. Para ele, os recursos precisam ser distribuídos de forma mais equânime entre partidos e campanhas.

Materiais impressos concentram despesas

Em tempos de meios digitais, o perfil das despesas dos candidatos confirma mais uma vez que campanha se faz na rua. Do total desembolsado, R$ 289,5 milhões foram destinados à impressão de materiais, como santinhos e panfletos. Mais R$ 95,5 milhões foram usados para compras de placas, estandartes e faixas com as fotos dos candidatos. Os dois itens, somados, foram responsáveis por 40% dos gastos totais dos candidatos até 6 de setembro passado.

Para se ter uma ideia do tamanho dos gastos, só os R$ 45,6 milhões destinados a contratar carros de som seriam o suficiente para custear quatro shows gratuitos da banda britânica Rolling Stones na Praia de Copacabana (o orçamento da apresentação, que aconteceu em 2006, foi estimado em R$ 10 milhões). Mais R$ 73 milhões foram usados para pagar a produção de programas de rádio e televisão dos candidatos, principalmente a prefeito. Com esse dinheiro seria possível financiar duas vezes a produção do filme “O artista”, vencedor do Oscar deste ano de melhor filme, que teve orçamento de US$ 15 milhões (cerca de R$ 30,3 milhões).

Com gasolinas e lubrificantes, os candidatos gastaram R$ 76,7 milhões. Se metade desse valor foi gasto para compra de gasolina comum, isso seria suficiente para adquirir 14 milhões de litros do combustível, o suficiente para rodar 82 vezes a malha rodoviária federal do país.
As pessoas envolvidas em fazer campanha para os candidatos receberam R$ 99,4 milhões. O montante gasto para contratar pesquisas chegou a R$ 7,5 milhões. Com multas por campanhas irregulares, os gastos foram de apenas R$ 67 mil. Para criar páginas na internet, os candidatos movimentaram R$ 6,5 milhões. Nesse quesito, a maior despesa foi do tucano José Serra, com R$ 250 mil para produção de conteúdo para a internet. Ratinho Júnior, candidato a prefeito pelo PSC em Curitiba, declarou R$ 150 mil gastos com internet. Eduardo Paes (PMDB) declarou gasto de R$ 70 mil para site e redes sociais.

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